A Belle Époque foi um período marcado pelas profundas mudanças no cotidiano de Paris, mudanças estas de boa repercussão para a elite da época. A França era o centro cultural mundial e todos queriam copiá-la. O Brasil não ficou de fora, artistas brasileiros como Augusto Rodrigues Duares, Henrique Bernardelli, Manuel Teixeira da Rocha, Pedro Américo, Pedro Weingartner e Eliseu Visconti estiveram presentes em exposições na França. Porém foi em 1889, ano da Proclamação da República, que o nosso país por dentro começa a se desenhar com inspiração nos padrões franceses. A ligação com a França é profunda nesse período, entre os membros da elite brasileira era inconcebível não ir a Paris pelo menos uma vez ao ano, para estar a par das mais recentes inovações.
No Brasil surgem grandes nomes de uma nova cultura, do sanitarista Oswaldo Cruz e do engenheiro Pereira Passos ao “Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga.
Era uma nova segmentação de intelectuais, o Brasil queria mudar. De acordo com uma pesquisa de Alexei Bueno publicada em 2004 pela revista Rio Artes, valia de tudo para a imprensa do período da Belle Époque. Grandes figuras do jornalismo e das letras tratavam personalidades da literatura brasileira de até alguns anos atrás com deboches ácidos. “Meticuloso, lamuriento, burilador de frases banais, bolorento pastel literário, autor de bombinhas da China”. Considerado o maior escritor brasileiro, Machado de Assis foi assim atacado por alguém credenciado, o crítico literário Sílvio Romero, contemporâneo do escritor e jornalista como ele. Em seu livro Estudos de Literatura Contemporânea, Romero disse ainda que o autor de Quincas Borba não passava de um “pequeno representante do pensamento retórico e velho no Brasil” e que sua produção simbolizava “nosso romantismo velho, caquético, opilado e sem idéias”.
Mal sabia Romero que esse “pequeno representante” do Brasil iria ser reconhecido como um dos maiores escritores do nosso país, para não dizer “o maior”.
Mas não foram somente os costumes que mudaram, as cidades como consequencia sofreram alterações significativas para se aproximarem do estereótipo da cidade luz e beneficiar o comércio. “O Rio Civiliza-se!”, é a expressão mais corrente após a conclusão da Avenida Central. Baniu-se do centro da cidade do Rio de Janeiro a presença dos humildes e permitiu que a burguesia ganhasse as ruas, caminhando para uma nova cidade de rosto parisiense. A nova configuração dos terrenos ao longo da Avenida permitiu a construção de grandes edifícios, em que todos tinham cunho estritamente comercial. A predominância de grandes lojas afastou definitivamente os pequenos comerciantes, que não tinham como arcar com tais despesas, fazendo da avenida lugar exclusivo das grandes corporações.
Num resumo podemos falar que a Belle Époque no Brasil é uma fase de transição do regime monárquico para o republicano, tanto que o fim da Belle Époque começa a se manifestar em 1922, ano em que ocorreu a semana da arte moderna, para de desintegrar totalmente até o final dos anos 20, quando acabaria a Primeira República. É pela mudança dos valores cultuados pela sociedade brasileira que se caracteriza. Pelo preconceito cristalizado que se evidencia com o ideal de beleza que a republica quer passar. Com a imagem de uma população nobre e culta ser a digna para ser passada aos estrangeiros. Assim acabavam varrendo para os cantos a imensa maioria do povo brasileiro, em nome da suposta beleza e do comércio. Mas para falarmos desse outro lado da Belle Époque deixemos para o texto abaixo.
Pierros posam para foto em frente ao Teatro Municipal (1919)
A face obscura da Belle Époque tropical
A Belle Époque foi considerada um período de luxo e transformações sociais e culturais que se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil. Inspirado nesses ideais a burguesia brasileira começou a implantar os costumes advindos da civilização européia, porém nem tudo foi só ostentação e luxuosidade, para manter a sociedade elitista brasileira, muitos trabalhadores eram obrigados a trabalhar em péssimas condições. Enquanto cidades brasileiras como Rio de Janeiro e especialmente Manaus, viviam o auge da Belle èpoque, sua situação sócio-econômica era devastadora, principalmente na capital amazonense, onde o lucro da burguesia adivinha da exploração de recursos naturais como o latéx. Manaus se desenvolvia, eram construídos avenidas armazéns, graças ao ciclo da borracha, porém esse desenvolvimento gerou caos, Manaus conhecida como a Paris tropical, exportava latéx para toda Europa.Entre 1890 a 1912 Manaus vivia o ciclo do latéx, material alvo de especulações de países europeus, Manaus era um grande campo de latéx, mas seus trabalhadores eram mau pagos e obrigados a trabalhar em condições precárias.
Foto da avenida principal de Manaus a ilusão de prosperidade contrastava com a desigualdade social
Foto do Banco de Manaus
O ciclo da borracha chegou ao fim em 1912, devido aos países europeus, exportarem sementes da seringueira para países como Ceilão e Índia, aonde conseguiam preços mais baratos pela matéria prima da borracha, Manaus passa por uma profunda depressão a cidade que crescera e concentrava lucros absurdos nas mãos de burgueses, se via abandonada, seus luxuosos mercados e armazéns de roupas estavam abandonados e Manaus ficou esquecida do resto do mundo.